- Introdução
As obras subaquáticas podem ser consideradas um dos mais complexos e desafiadores tipos de trabalho realizados pelo homem, desde os primórdios da civilização até a atualidade. O nível de dificuldade se dá pelo fato de que o planejamento, condições adversas do meio agressivo e até mesmo a mão de obra, que precisa ser específica e qualificada para tal procedimento, requerem um conhecimento aprofundado do meio e do contexto em que as obras serão inseridas. Cerca de 71% da superfície terrestre é coberta por água e apenas 20% dos mares foram explorados e mapeados, pelo fato de que em grandes profundidades a pressão que a água exerce é muito grande e os equipamentos muitas vezes não a suportam (Li, H., Liu, Y., Liang, B., 2022).
- Tipo de obras principais e desafios
2.1 Túneis submersos
Estes túneis são construídos geralmente para o transporte de petróleo, que tem origem nas estações de captação e destino às refinarias. Esse caminho é feito pelo leito do mar e devido às altas pressões, os trajetos em sua maioria são curtos, mas existem casos em que esse oleoduto é instalado na superfície e ele permanece flutuante, descartando o problema de sobrepressão. A Figura 1 ilustra um duto submarino para transporte de petróleo.
Outro exemplo de túneis submersos, são para o uso rodoviário e ferroviário, como é o caso do túnel do canal da Mancha, que conecta o Reino Unido com a França, conhecido como Eurotúnel. Esses túneis são construídos com um misto de concreto e aço, comumente chamados de concreto armado e precisam resistir tanto à pressões absurdas, como também ao ambiente agressivo por conta dos sais e principalmente a água salgada, que em contato com metais causa a oxidação fazendo assim com que a resistência seja comprometida. Para contornar essa situação, é utilizado o aço inoxidável e também a fibra de vidro, pois são capazes de suportar o meio agressivo por muito mais tempo (Guimarães B. S. S. 2021).
Figura 1: Duto submarino de petróleo
Fonte: Benflex
2.2 Pontes em águas profundas
No caso de pontes que passam por cima de rios ou mares, que possuem grande profundidade, é necessário que a sua base de sustentação seja firme e estabilizada para garantir a segurança. Um exemplo de obra desse tipo é a ponte de Akashi Kaikyoo, a maior ponte suspensa do mundo, que conta com duas torres principais e o vão entre elas mede 1.991 m. O rio Akashi, em estado natural, tem 60 m de profundidade, porém foi necessário uma escavação no leito, pois existia muita lama até chegar à parte firme para sustentação. Para isso foram utilizadas escavadeiras enormes neste trabalho.
Para a confecção das fundações, foram necessários caixões de 70 m de profundidade e 80 m de largura, com formato cilíndrico, cada um com capacidade de comportar 250.000 m3 de concreto. No total foram 120.000 toneladas aplicadas ao solo em cada torre.
No local há a presença de uma forte corrente, que se aplica como um empecilho trazendo areia e pedregulhos, mas depois de feita a concretagem dos caixões foi colocado uma espécie de filtro composto de pedras arredondadas e uma tampa superior, que serve de base para a ponte. O concreto utilizado foi um tipo especial com uma adesão maior que o comum no meio aquoso (INOVAE, 2013).
Imagem 02: Ponte Akashi KaiKyoo
Fonte: Engenharia e Construção. (2011). Foto ponte Akahsi. Recuperado em 7outubro, 2011, de http://www.engenhariaeconstrucao.com/2011/11/ponte-akashi-kaikyo-o-maior-tabuleiro.html
- Novas Tecnologias
As inovações na área da engenharia têm sido exponenciais e para o ramo das construções subaquáticas não foi diferente. O avanço tecnológico permite que se garanta mais segurança no trabalho e melhor execução de projeto, sempre priorizando o melhor desempenho com a melhor utilização dos recursos, fazendo com que o rendimento da obra seja atingido ao máximo. Algumas das novas tecnologias implementadas são:
3.1 Modelagem e Simulação Computacional
Hoje em dia, os computadores têm uma capacidade de processamento muito grande, o que nos permite envolver uma maior quantidade de variáveis, ou seja, podemos representar quase que completamente a realidade. Ainda que não seja perfeito, o aprimoramento é notável. Algumas variáveis, como o comportamento das correntes da água, há poucos anos seria praticamente impossível de determinar com a precisão de hoje. O avanço é significativo, além de prevenir riscos e facilitar o planejamento da obra.
3.2 Impressão 3D Submarina
Esta tecnologia é muito parecida com a impressão 3D comum. O conceito de que a impressão é feita por camadas uma por uma se assemelha, porém, essa fica localizada imersa na água ou offshore. Teve como objetivo automatizar a produção e reduzir a necessidade do transporte de grandes estruturas até o local, sendo assim fabricada in loco. Como a “impressora” fica submersa, o material utilizado tem que ser apropriado para o serviço. Neste caso utiliza-se um concreto especial com a incorporação de aditivos, que aumentam sua impermeabilidade fazendo com que o processo de endurecimento, mesmo sob a água, ganhe resistência sem alterar sua composição.
A utilização de robôs remotamente controlados também contribui para a segurança e facilita o trabalho, sendo dispensado o uso de mão de obra humana no meio reduzindo riscos. Outro ponto interessante são as barreiras de fluxo que contém as correntes de água, para não interferir na produção.
- Considerações Finais
Por fim, as obras subaquáticas representam um grande desafio técnico que consequentemente levam a avanços substanciais para a engenharia. É importante ressaltar que as novas tecnologias se alinham com os planejamentos e estudos para a conclusão das construções, a preocupação com a segurança tanto de trabalho quanto ambiental é redobrada nestes casos por serem obras muito grandes e caras. Nesse viés, este tipo de estrutura requer manutenções e monitoramentos periódicos, por conta do ambiente agressivo. Assim o monitoramento também tem aumentado sua eficiência com dados em tempo real que permitem uma análise que prevê um problema futuro necessário devido a grande complexidade.
Referências
LI, H.; LIU, Y.; LIANG, B. et al. Demands and challenges for construction of marine infrastructures in China. Front. Struct. Civ. Eng. 16, 551–563, 2022.
MORAIS, J. M. Petróleo em águas profundas: Uma história tecnológica da Petrobras na exploração e produção offshore. Brasília. Ipea: Petrobras, 2013.
BELTRÃO, R. L. C.; SOMBRA, C. L; LAGE, A. C. V. M.; NETTO, J. R. F.; HENRIQUES, C. C. D. Challenges and New Technologies for the Development of the Pre-salt Cluster, Santos Basin, Brazil. OFFSHORE TECHNOLOGY CONFERENCE, OTC 19880, Houston, USA, p. 4–7, 2009.
INOVAE, Journal of Engineering, Architecture and Technology Innovation, São Paulo v. 1, n.1, p 133-143, set./dez., 2013. (ISSN 2357-7797)
Deixe um comentário