Quando se comenta a respeito de construções inclinadas, o símbolo maior talvez seja a torre de Piza, cartão postal da Itália que recebe milhões de visitantes todos os anos. No Brasil, temos o exemplo da cidade de Santos, onde 3% da população (aproximadamente 16 mil pessoas) vive em edifícios inclinados. Esses edifícios têm entre 10 e 20 andares e a maioria foi construído nas décadas de 50, 60 e 70.
A inclinação das edificações está relacionada com a soma de alguns fatores que juntos levaram ao recalque apresentado. O solo de Santos é composto por uma camada fina de areia (8 a 12 metros) seguida de uma camada de argila marinha (20 a 40 metros). A camada rochosa está localizada abaixo dos 50 metros de profundidade. Entre os anos de 1950 e 1970, devido ao anseio das construtoras em economizar, as fundações eram feitas rasas com a profundidade variando entre 4 a 7 metros, utilizando a fundação direta com sapatas. Porém devido ao peso das estruturas, a camada de areia comprime a argila marinha que por ser menos densa acaba cedendo em alguns pontos levando ao recalque das edificações.
Veja a figura abaixo:
IBAGEM

Figura 1- Ilustração das camadas do solo e das diferentes fundações

Uma das soluções para esse problema é o realinhamento dos prédios. Por enquanto essa técnica foi realizada apenas no Edifício Núncio Malzoni, em dois blocos. Localizada na Avenida Bartolomeu de Gusmão, a obra teve êxito e apesar do alto custo o investimento foi compensado, já que os apartamentos tiveram uma valorização de mais de 100% depois que o prédio foi alinhado.
Em 1998 foi iniciado o reaprumo do primeiro bloco do edifício, onde foi realizado em três etapas. Primeiramente foram colocadas estacas que atingiam o solo na camada mais resistente, localizada abaixo da argila. Depois, foram utilizadas vigas de concreto que transferiram os esforços dos pilares antigos para as novas estacas. Por fim instalou-se macacos hidráulicos entre as pontas das vigas e as estacas. Esses equipamentos recebiam cargas variáveis de até 900 toneladas, que impulsionaram a estrutura para cima. Quando foi constatado que o prédio estava alinhado, retirou-se os macacos hidráulicos, preenchendo o local que ocupavam com concreto. A obra foi finalizada em 2001, e em 2011 o reaprumo do segundo bloco foi concretizado.
Segundo o engenheiro responsável pela obra, Carlos Eduardo Moreira Maffei, o custo de 1,5 milhão de reais poderia ser reduzido caso houvessem vários prédios sendo realinhados ao mesmo tempo.
Veja a reportagem abaixo, onde o Jornal Nacional visita à obra e mostra o processo de reaprumo do segundo bloco:

A professora Dra. Marta Luzia de Souza, geóloga que atua com mapeamento geotécnico, ao analisar o caso de Santos comenta a necessidade de serem realizadas análises prévias no terreno a ser ocupado que incluam perfis verticais geológicos, para o conhecimento do comportamento dos materiais inconsolidados (solos), que podem ser oriundos de materiais transportados ou residuais. A professora ainda destaca que são a partir dos dados preliminares dos perfis, que serão definidos os ensaios para a caracterização detalhada de cada camada dos solos, a fim de prevenir problemas futuros semelhantes ao ocorrido em Santos.
O caso dos prédios inclinados serve de alerta para os engenheiros e futuros engenheiros, já que mostra a importância de conhecer o solo da região em que a obra vai ser implantada, e também que às vezes não é possível realizar a opção de menor custo, visto que a prioridade deve ser sempre garantir a segurança daqueles que transitam pelo local.
Saiba mais em:
http://netleland.net/tag/edificio-nuncio-malzoni
http://joaofarias03.blogspot.com.br/2010/07/os-predios-tortos-de-santos.html