CONTEXTO HISTÓRICO

     Em meados da segunda década do século XX, época em que a cafeicultura era uma das principais atividades econômicas do Brasil, principalmente na região do interior paulista, viu-se a possibilidade de expansão da produção cafeeira. Assim, em uma comitiva vinda do Reino Unido, Simon Joseph Fraser, o 16º Lord Lovat da Escócia, visitou fazendas de café no interior paulista e se interessou pela alta fertilidade do solo. Com isso, decidiu investir na colonização da região, atingindo o norte paranaense, fundando no ano de 1925 a Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), que, subsidiada pelo capital britânico, colocaria o processo de exploração da região em prática. A partir disso, e após a negociação de terras com o governo do Estado, ocorreu gradativamente a colonização da região, a expansão da linha férrea e a criação dos primeiros povoados e pontos de exploração.

Figura 01: Atual município de Londrina, centro de comando das explorações, em 1934

Fonte: Câmara Municipal de Londrina

    Com o estabelecimento do escritório da companhia para venda dos lotes da região em Londrina, os compradores investiam nas terras e realizavam a derrubada da mata nativa, sendo o primeiro lote desbravado de Maringá adquirido no final da década de 1930. Em 1942, surgiu também um pequeno povoado, que servia de apoio aos desbravadores das novas propriedades locais, situado na região conhecida hoje como “Maringá Velho”. Com o crescimento populacional da região, houve a necessidade de se planejar a melhoria de sua infraestrutura.

Figura 02: Região do “Maringá Velho”, na atual Zona 06, na década de 1940

Fonte: Maringá Histórica

O PROJETO

Figura 03: Anteprojeto da cidade de Maringá, elaborado pelo Eng. Jorge de Macedo Vieira na década de 1940

Fonte: Museu da Bacia do Paraná

    A planta inicial de Maringá foi elaborada em 1947 pelo renomado engenheiro e urbanista Jorge de Macedo Vieira, contratado pela Companhia de Melhoramentos Norte do Paraná. Vieira possuía experiência por ter trabalhado no projeto e execução de inúmeros bairros-jardim nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, além de cidades como Campinas e Itatiba (SP), levando várias de suas características e preceitos para o projeto maringaense.

    O traçado de Vieira apresenta forte influência dos conceitos de cidade-jardim propostos por autores como Unwin, Werner Hegemann e Karl Lehenstein, tanto no planejamento de Maringá quanto da cidade de Cianorte, também planejada pelo urbanista. Outro aspecto em destaque é a presença dos parques nos projetos, algo que não é visto nos projetos de cidades vizinhas, além da existência de rotatórias verdes no cruzamento de avenidas e ruas principais com calhas amplas e canteiros centrais bem arborizados, que retomam o conceito de cidade verde.

Figura 04: Vista aérea do Parque do Ingá e da Avenida São Paulo, uma das principais vias da cidade.

Fonte: Prefeitura Municipal de Maringá

Figura 05: Vista aérea da Praça Rocha Pombo, localizada no encontro das avenidas Brasil e Pedro Taques

Fonte: Maringá.com

        A cidade foi planejada já imaginando sua alta taxa de crescimento, prevendo-se um aumento de 200 mil habitantes em 50 anos. Além disso, o projeto foi desenvolvido tendo como ponto central de referência a estação ferroviária, que viria a ser construída na parte plana do município. Assim, as ruas projetadas seriam paralelas e perpendiculares à linha férrea, que atravessa a cidade no sentido leste-oeste. No sentido norte-sul, perpendicular à linha e cortando a estação, estaria localizado o Eixo Monumental, que hoje segue da Praça da Catedral à Vila Olímpica.

Figura 06: Vista aérea do Eixo Monumental da cidade, no ano de 1972

Fonte: Museu da Bacia do Paraná

Figura 07: Terminal Intermodal Urbano de Maringá, onde antes era localizada a Estação Ferroviária. Ao fundo, pode-se observar parte do Eixo Monumental até a praça da Catedral

Fonte: Tiago Louzada/Prefeitura Municipal de Maringá

      Ao contrário do plano da maioria das cidades, que seguem os conceitos urbanísticos de Le Corbusier e da “Carta de Atenas”, Maringá apresenta forte influência de princípios racionalistas, notados pela regularidade e geometria precisa do sistema viário, além de critérios organicistas, pela adequação de ruas e quadras em áreas de topografia mais acidentada, diferenciando-se do projeto de cidades como Londrina, que apresenta um traçado semelhante a um tabuleiro de xadrez, havendo poucas variações.

Figuras 08 e 09: Vistas aéreas do centro de Londrina e Maringá

Fonte: Wilson Vieira e Rede de Turismo Regional

MARINGÁ COMO INSPIRAÇÃO

      Os conceitos urbanísticos de Jorge de Macedo Vieira aplicados no projeto de Maringá são considerados até hoje como referência, tanto pela questão sustentável quanto pela organização logística das ruas e avenidas, servindo como inspiração no traçado de polos regionais, como Sinop (MT), além de cidades como Ivaiporã (PR) e Paranacity (PR).

Figura 10: Região central de Maringá

Fonte: Rafael Silva

REFERÊNCIAS

ANDRADE, C.R.M.; CORDOVIL, F.C.S. A cidade de Maringá, PR. O plano inicial e as “requalificações urbanas”. Diez años de cambios en el Mundo, en la Geografía y en las Ciencias Sociales, 1999-2008. Actas del X Coloquio Internacional de Geocrítica, Universidad de Barcelona, 26-30 de mayo de 2008.

PEIXOTO, E.R.; PALAZZO, P.; DERNTL, M.F.; TREVISAN, R.. Tempos e Escalas da Cidade e do Urbanismo. XIII Seminário de História da Cidade e do Urbanismo. Brasília: Editora FAU–UnB, 2014.

RODRIGUES, A.L. Características do processo de urbanização de Maringá, PR: uma cidade de “porte médio”. Cadernos Metrópole, n. 12, 2004.

TÖWS, R.L. Grandes projetos urbanos como reprodução da lógica do capital em Maringá (PR), 2015.

<http://www.maringa.pr.gov.br/turismo/?cod=nossa-cidade/2&gt;, Acesso em 02 de março, 2023.

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