Ao contrário de como são vistas aqui no Brasil, as construções em madeira têm se mostrado extremamente fortes nos territórios internacionais. A cultura ultrapassada das construções em alvenaria e até mesmo em aço têm dado espaço à cultura sustentável deste biomaterial. A madeira, ao contrário do cimento e do aço, retira parte do CO2 presente na atmosfera e o prende em sua composição através do seu ciclo de vida, liberando em seu lugar quantidades consideráveis de O2. Números da Agência Internacional de Energia (IEA) afirmam que na produção de dez quilos de cimento são gerados de seis a nove quilos de CO2.

       A nova tendência entre alguns arquitetos é utilizar a madeira não apenas no acabamento, mas também na própria estrutura, substituindo o uso do concreto, mesmo armado. Segundo o IMAZON, em 2001, aproximadamente 20% da madeira utilizada em construção civil era destinada para acabamentos, enquanto os outros 80% eram direcionados para uso descartável (marcação, nivelamento e confecção de formas).

       Os ensaios realizados seguindo a norma técnica da ABNT, NBR 7190/97, garantem que a madeira, quando bem tratada e cuidadosamente secada, pode suportar valores de resistência à tração na ordem de 157 MPa (madeira oriunda da tora de Jatobá) e de resistência à compressão na ordem de 95 MPa (madeira oriunda da tora de Sucupira). Além disso, esses tratamentos podem ainda retardar o processo de combustão da madeira, o que superaria o medo de morar em uma residência feita neste material, já que esse atraso compensaria o tempo de fuga do incêndio.

       A partir desta ideia que novos edifícios, de maior porte, passaram a ser totalmente realizados em madeira. Um dos melhores exemplos disso, tem sido prédios no Canadá, que utilizam não apenas da vantagem biológica e mecânica da madeira, mas também da sua grande característica de isolante térmica. Basicamente, a madeira é um mau condutor térmico em consequência de sua estrutura celular (grande número de pequenas massas de ar aprisionadas) e de sua constituição por membranas celulósicas.

       Segundo o British Columbia Construction Code, em 2008, no Canadá era recomendado que os edifícios em madeira tivessem, no máximo, 4 pavimentos. Neste mesmo ano, em Londres, edificações no mesmo material já eram feitas com 9 pavimentos. No ano seguinte, no Canadá, essas obras ganharam mais 2 andares de liberdade. Após revisões no Código, neste mesmo país os edifícios poderiam ser realizados com 12 pavimentos de madeira.

       Recentemente, o arquiteto canadense Michael Green, da MGA (Michael Green Architecture), lançou o mais novo desafio: Tall Wood. Este foi o nome dado por ele ao seu atual projeto de um edifício em Vancouver, com 30 andares em estrutura de madeira. A ideia é concomitante aos edifícios que já estão em andamento na Noruega e na Áustria, com 17 e 20 pavimentos de pura madeira, respectivamente. A figura 1 abaixo mostra uma renderização do projeto de Green.

Idealização digital do Tall Wood por Michael Green.
Figura 1 – Idealização digital do Tall Wood por Michael Green.
Figura 2 – Comparação vertical de edifícios em madeira pelo mundo.
Figura 2 – Comparação vertical de edifícios em madeira pelo mundo.

       A estrutura deste edifício é feita exclusivamente em painéis de madeira laminada tratada (um composto feito de fibras de madeira coladas umas às outras), além de outros produtos feitos com fibras de madeiras unidas e coladas formando ângulos retos, que são usadas em pisos e paredes. A figura 3 abaixo mostra um pouco da estrutura deste edifício.

Figura 3 – estrutura do Tall Wood e planta baixa de um pavimento.
Figura 3 – estrutura do Tall Wood e planta baixa de um pavimento.

       No ano de 2012, o edifício em estrutura de madeira mais alto do mundo era o Stadthaus, Murray Grove, situado em Londres, com 9 pavimentos. Segundo Craig Liddell, diretor comercial da KLH UK, empresa que desenvolveu a madeira laminada cruzada para esta obra, essa edificação só não teve mais pavimentos pois, para construções acima de 30 metros de altura, seria necessário um sistema mais aprimorado de combate a incêndio (utilizando sprinklers), além de outras normas que regiam no Reino Unido que barraram a edificação.

Figura 4 – Vista exterior do Stadthaus, Murray Grove, Londres.
Figura 4 – Vista exterior do Stadthaus, Murray Grove, Londres.

       Mas este fato não deteve a fama e o engenho deste prédio: a madeira utilizada consegue estancar a passagem de ar, o que faz com que o Stadthaus um dos edifícios mais eficientes em termos energéticos de Londres. Outra curiosidade sobre esta obra é que, devido a facilidade e rapidez com que fora construído (por utilizar painéis pré-fabricados), o edifício ficou pronto em menos de um ano e foi quase que totalmente vendido em apenas 2 horas.

Figura 5 – estruturação do Stadthaus, Murray Grove.
Figura 5 – estruturação do Stadthaus, Murray Grove.

       A seguir, um vídeo de como o Stadthaus, Murray Grove foi construído ao passar do tempo.

       Outro caso muito especial de construção em madeira está no norte da Suíça, mais precisamente em Gossau. A ideia é do arquiteto japonês Shigeru Ban, que projetou um edifício feito exclusivamente em madeira, até mesmo os vínculos, reduzindo a zero o uso de aço e concreto em sua estrutura. Para isso, cada viga do prédio era feita sob medida e encomenda, com 24 metros de comprimento e pesando 2 toneladas cada uma, todas feitas com o auxílio de computadores para garantir o encaixe milimétrico entre elas. O edifício pertence ao grupo multimídia Tamedia e possui 7 andares.  As figuras 6, 7 e 8 abaixo mostram a estrutura desta edificação e o vídeo explica como o arquiteto teve essa concepção, além de explicar o funcionamento da estrutura de sua obra.

Figura 6 – Vista exterior do edifício do grupo Tamedia.
Figura 6 – Vista exterior do edifício do grupo Tamedia.
Figura 7 – Estrutura de madeira do edifício do grupo Tamedia.
Figura 7 – Estrutura de madeira do edifício do grupo Tamedia.
Figura 8 – Vínculos das peças estruturais do edifício.
Figura 8 – Vínculos das peças estruturais do edifício.

Saiba mais em:

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