Quando se estuda melhorias para o concreto, grande atenção é dada às pesquisas sobre durabilidade do material. Para a literatura, um concreto durável é aquele que quando exposto a diferentes condições ambientais, consegue manter a forma, qualidade e desempenho para os quais foi desenvolvido, ou seja, a capacidade de resistir aos quais fenômenos de deterioração (MEHTA e MONTEIRO, 2008).
Tratando de deterioração do concreto, atuam fatores químicos e físicos. Dentre as causas físicas está a fissuração, fator que aumenta a quantidade de reações químicas dentro do material, estando relacionado aos fatores químicos de deterioração. As fissuras permitem a penetração de água e outros agentes agressivos para dentro do concreto, facilitando a ocorrência de reações maléficas (MEHTA e MONTEIRO, 2008).
Entende-se que fissuras podem ocorrer de diferentes maneiras. Muitos autores se preocuparam em estudar suas origens, dentre as quais estão: as movimentações provocadas por variações térmicas e de umidade; atuação de sobrecargas ou concentração de tensões; deformabilidade excessiva das estruturas; recalques diferenciados das fundações; retração de produtos à base de ligantes hidráulicos; e alterações químicas de materiais de construção (THOMAZ, 1989).
Deste modo, entende-se que o surgimento de fissuras em matérias cimentícios é quase que inevitável, sendo que o reparo e a manutenção das estruturas muitas vezes se tornam caro ou, até inacessível, como em casos de pontes… etc. Portanto, ao longo dos últimos anos, o número de pesquisas sobre a autocicatrização do concreto cresceu exponencialmente (BELIE et al., 2018).
O que é a autocicatrização? A autocicatrização é um fenômeno natural do fechamento de microfissuras com base na ocorrência de reações químicas e o envolvimento de água. Para exemplificar, VAN TITTELBOOM e BELIE (2013) cita o exemplo de quando uma pessoa sofre um pequeno corte. Não é instantâneo, mas graças a diversos fatores do corpo humano, ao longo do tempo esse corte irá cicatrizar. O mesmo acontece com o concreto, porém, no lugar do corte, teremos uma fissura.
A autocicatrização está dividida em dois tipos: a autocicatrização autônoma e a autógena. A autônoma ocorre devido a materiais que não estariam presentes no concreto caso não fossem adicionados (com base na engenharia). Enquanto a autógena, tem foco principal na matéria, sendo aquela que ocorre devido fatores presentes no concreto (RILEM, 2013). A autocicatrização autógena ou intrínseca, ocorre devido diferentes fatores. Como principais, dois dos fatores foram selecionados: a hidratação contínua das partículas não hidratadas de cimento e a precipitação de carbonato de cálcio (CaCO3), devido a presença de CO2 (BELIE et al., 2018).
Fonte: TAKAGI, 2013, p. 19 apud RILEM, 2013, p. 65
Mesmo a autocicatrização autógena sendo um fenômeno natural presente no concreto, existem diversos estudos que buscam “estimular” a ocorrência de tal efeito – pois o mesmo se dá de maneira lenta. Para isto, existem diversas adições que vêm sendo estudadas, como incorporação de materiais pozolânico, a fim de estimular a hidratação.
Neste grupo de estimuladores temos também métodos de contenção do tamanho da fissura por meio da incorporação de fibras; a exposição do material a água, ou a ciclos seco-úmido – a água estimula o fenômeno de hidratação contínua e o ar aumenta a possibilidade das reações de produção do carbonato de cálcio; e como já mencionado a incorporação de materiais com hidratação mais lenta e/ou que facilitam a formação de CaCO3 (BELIE et al., 2018).
Fonte: VAN TITTELBOOM; BELIE, 2013, p. 2185
À luz do exposto, a autocicatrização pode se tornar uma tecnologia muito interessante para a Engenharia. No entanto, ainda existem algumas dificuldades em caracterizar e mensurar a autocicatrização. Para tanto, pesquisadores em diversas universidades tem desenvolvido métodos e realizado estudos para aprofundar nossos conhecimentos sobre o fenômeno. Essa matéria foi uma sucinta explicação sobre o tema, mas se você se interessou por esse assunto, basta buscar as referências utilizadas para aprender mais a respeito! 😉
Escrito por: Matheus Basso.
Deixe um comentário